sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Voyage

Kandinsy, Composição IV, 1911
Voyage

(A Rozenn)

Aqui estamo-nus
com algumas palavras e
sobre a mesa, garrafas vazias
pratos sujos...
Alguém busca os escritos
Alguém arrisca um sussurro
Outro, um sentido torpe
para sujas palavras
línguas, línguas
línguas soltas
tribos de tribalhistas:
descançam canción chanson
em nossos ouvidos
Mas eu... só enxergo de dentro
para fora
numa voyage sem retorno.
{jr}

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Colaboração


(Quadro de Juraci Dórea,


Por Angelo Riccell Piovischini




(A Geisa, Roque e Jocenilson)

Entrevista

Palatus et Colirius - Desde quando você escreve e o que o levou a fazê-lo?

Riccell
- Comecei a escrever poesias com 13 anos quando cursava a sétima série do ensino fundamental numa escola pública no município de Feira de Santana-Ba. Um professor de história naquela série foi um dos meus grandes incentivadores à escrita. Ele recitava as suas poesias para toda a sala, o que fazia com que boa parte da turma ficasse admirada. Eu, em particular, me encantava. A escrita tem esse poder da sedução.

Palatus et Colirius -
Você tem apresentado forte inclinação para a escrita poética, tendo publicado algumas poesias em concurso nacional. Há alguém que o inspire ou que você toma como referência?

Riccell - Comecei então a querer escrever poesias. De lá pra cá, hibernei muitas e muitas vezes. Tive o privilégio de estudar com professores como Juraci Dórea, Antônio Brasileiro e Roberval Pereyr que me são presentes referências literárias. Em minhas andanças pelas letras não poderia deixar de destacar meu gosto e admiração pela belíssima literatura de Clarince Lispector... Pela poesia anti-tradicional e quotidiana de Manoel de Barros. Por enquanto são os autores que mais tenho admirado. Minhas andanças não pararam e muito ainda tenho que aprender e descobrir. Experimentar para revivescrever em poesia.


Angelo Riccell Piovischini (1981), natural de Feira de Santana-BA, é graduando em Letras com Inglês pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). É também professor de língua inglesa pelo Núcleo de Estudos Canadenses/Projeto Portal Universitário vinculado a esta universidade. Escreve poesias desde 13 anos de idade. Faz parte da antologia Olhai os versos do campus, sob a coordenação de Rosangela Villa da Silva com a colaboração de Lívia Galharte Gaertner. A antologia poética é fruto da comemoração dos 40 anos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) - Corumbá.


sexta-feira, 24 de agosto de 2007

desolação

Fonte: http://thefuckingshit.org/images/perdido_angeladini.jpg


desolação

estavatoanavida
estavatoanapraia
estavatoanomundo
cortadopelanavalha

estiveórfaodavida
estivividaferida
estivemortonaporta
dosemiteriodavida

esperochuvanaroça
esperopovonaluta
esperorangonaboca
elivroabertonacuca

{jr}

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O amanhã e nós


Amanhã e nós


E se o sol não brilhar novamente, e se a água fresca e pura deixar de cair sobre nossas cabeças, e se uma criança gritar por socorro noutro quarteirão, e se uma mãe nos roubar para alimentar seu filho, e se nós não acertarmos pôr a linha numa agulha, e se o governo nos trair outra vez, e se Deus nos devolver o peso dos feitos humanos, e se as noites tornarem-se mais longas, e se a agonia e a angústia cantarem aos nossos ouvidos constantemente, e se a guerra não acabar, e se o alimento faltar em nossas dispensas, e se a vida estiver a ponto de perder sua essência? Instauremos, companheiros, uma nova revolução, pois os tempos cansaram-se de nós, mas nós não o deixaremos caminhar sozinho.

{jr}

domingo, 12 de agosto de 2007

Promessas cotidianas

Promessas cotidianas
à república
Não prometi
votar na democracia
amar todos os irmãos
ainda de olho fechado
ser um filho perfeito
ser um neto querido
ser a pessoa mais justa
ser o grande namorado

Não prometi
cantar o Hino à Bandeira
honrar as datas festivas
tirar notas brilhantes
chegar à reunião antes
ler esportes no jornal
por a toalha na corda
chegar ao trabalho cedo
depois de um festival

Não prometi
rezar todas as noites
ler a Bíblia Sagrada
ir a culto aos domingos
vigiar na madrugada
jejuar toda Quaresma
comer peixe à Santa-Sexta
cumprir todos mandamentos

Não prometi
dominar a norma culta
seguir as leis de trânsito
respeitar o bom sinal
não jogar lixo na rua
não correr de bicicleta
não xingar em praça puta
a mulher de um poeta

Não prometi

levar as crianças no parque
ser o mais fiel parceiro
ser um pai mais tolerante
dormir na praia em janeiro
dar moedas aos mendigos
parecer homem-diamante
em noites de carnaval

Não prometi
cumprir logo as promessas
ler poesia em outra língua
beber vinho no almoço
conhecer o litoral
ver o pôr do sol na praia
falar com novos vizinhos
nem que saiba o essencial

Não prometi
devorar Literaturas
escrever a melhor obra
defender sempre a verdade
enveredar os sertões
nas linhas de grandes rosas
ensinar às criancinhas
o valor da Liberdade
{jr}

sábado, 11 de agosto de 2007

Fuga

"Bebeu suas angústias
em cálices avidraçados
procurando fugir
do encontro
consigo mesmo.''
{jr}

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Meu repúdio contra Diogo Mainardi, um vejista!

No dia 25 de julho de 2007, o colunista (foto) da revista brasileira Veja n. 2018 publicou o seguinte texto de opinião:

Morremos todos
A posse do ministro da Defesa, na última quarta-feira, foi o espetáculo mais indecoroso da história política brasileira. Lula ria. Nelson Jobim ria. Tarso Genro ria. Guido Mantega ria. Celso Amorim ria. Juniti Saito ria. Marco Aurélio Garcia ria. Por algum motivo, até mesmo o demitido Waldir Pires ria. Lula provavelmente se regozijava por ter se safado, segundo seus cálculos, de mais uma fria. No caso, os 200 mortos da tragédia da TAM. Ele repetiu despudoradamente, com sua risada, o gesto de escárnio feito por Marco Aurélio Garcia em seu gabinete, no Palácio do Planalto.

Que espécie de gente tripudia sobre 200 mortos? Como alguém pode atingir esse grau de pusilanimidade? Se um dos militares presentes naquela sala batesse vigorosamente as botas, Lula e seus ministros com certeza sairiam em disparada, aos gritos, acotovelando-se e pisoteando-se no carpete verde. Eles só sabem cuidar da própria pele e do próprio bolso. Dane-se todo o resto. Ninguém derrubará Lula. O que vai acontecer conosco é muito pior: um progressivo desmoronamento da sociedade. É sempre complicado tentar apontar o momento em que um país se perde irremediavelmente. Mas, se eu fosse apostar, apostaria todas as fichas que ele ocorreu na posse de Nelson Jobim, na quarta-feira passada. Entre uma tirada de bar e outra, Lula profanou os 200 corpos dando a entender que o desastre poderia servir pelo menos para diminuir as filas da ponte aérea. Uma sociedade resiste a um governo corrupto. Ela resiste também a um presidente incapaz. O que elimina qualquer possibilidade de convívio é o triunfo dessa boçalidade predatória que caracteriza Lula e sua gente. Eles cercaram a cidadela e ficaram esperando que nossas reservas de civilidade acabassem. Elas acabaram.


Estamos desarmados e rendidos.O Brasil é um buraco. Nunca fizemos algo que prestasse. Mas até outro dia ainda tínhamos uma vaga idéia de como nos comportar. E era essa vaga idéia que mantinha o país andando. Andando de lado, mas andando. Uma das regras de comportamento que a gente seguia era manter certa dose de compostura diante da dor pela mort
e de alguém. Lula violou essa regra. Depois de violá-la, tripudiou mais uma vez, ensinando aos familiares dos mortos do desastre da TAM que é preciso que a gente tenha momentos de descontração para tornar a vida menos sofrível'. Um dia Lula morrerá. Mas nós já teremos morrido antes dele.”
In. Revista Veja. n. 2018. 25/07/2007. Brasil.
Hoje, após tê-lo recebido de um amigo, escrevi-lhe uma carta, manifestando a minha opinião acerca texto e do autor.
"Caro colega Marcelo,

Depois da leitura de Chauí e agora deste texto. Faço algumas perguntas um tanto idiotas: De quem é a culpa sobre o aquecimento global? De quem é a culpa a respeito da guerra no Iraque? De que é a culpa a respeito da queda das torres gêmeas? De que é a culpa a respeito da prática exacerbada de corrupção brasileira? De que é a culpa a respeito da crise aérea no Brasil? De quem é a culpa a respeito de tantos outros problemas nacionais, internacionais, globais? Ah, ainda tens dúvidas? A culpa, meu amigo, é do Lula! Antes, o mundo era um paraíso. Bastou Deus (ou sabe quem) dar o direito de voto ao nordestino Lula para o caos instaurar-se sobre nós, os inocentes, os pobres anjinhos – o povo.

Antes, não havia nenhum destes problemas. Depois o Diogo Mainardi vai dizer que a Veja - na qual ele “vende seu peixe”, e diga-se de passagem, peixe podre – este veículo midiático “inocente” ficou assim ruim por conta de Lula. Ora pois! Dizer: “Lula ria (...).O Brasil é um buraco. (...) Lula violou essa regra(...) Mas até outro dia ainda tínhamos uma vaga idéia de como nos comportar. E era essa vaga idéia que mantinha o país andando. Andando de lado, mas andando (...)” é ridículo! É claro que o Presidente da República tem lá suas culpas em “cartório”, uma vez que parte de sua equipe é capenga; entretanto um jornalista que se presa não se dá o direito de formar uma opinião tão bem distorcida e vulgarmente tendenciosa.

“Ninguém derrubará Lula”. Lembra –se do que M. Chauí disse? Há todo um projeto para este objetivo.

Lutemos, pois, caro colega, para que com a educação possamos ensinar aos nossos alunos a enxergar além, enxergar os implícitos e salvar-se da mediocridade e da ignorância que por vez mata!

Desculpa-me por me estender tanto!
Um abraço,
Nilson Ribeiro"

sábado, 4 de agosto de 2007

Metade - Oswaldo Montenegreo


de oswaldo montenegro


Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...


Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...


Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...


Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...


Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...


E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.


Oswaldo Viveiros Montenegro (direita)nasceu em 15 de março de 1956, no Grajaú, Rio de Janeiro, filho mais velho de quatro irmãos. Sempre adorou ler e devorava coleções de Júlio Verne, Monteiro Lobato, Malba Tahan".
"Um dos mais consagrados nomes de nossa MPB, com uma das mais privilegiadas vozes de nossa música e técnica vocal e instrumental invejáveis, Oswaldo construiu, nestes 31 anos, sólida carreira como cantor, arranjador, compositor, autor e diretor de teatro, com peculiaridades pra lá de interessantes. Tem 34 discos lançados, mais de 14 peças musicais, todas recorde de público e algumas – como Noturno, A Dança dos Signos, Aldeia dos Ventos, em cartaz há mais de 15 anos. Como compositor, tem músicas gravadas por Ney Matogrosso, Sandra de Sá, Paulinho Moska, Zé Ramalho, Alceu Valença, Zizi Possi, Glória Pires, Zélia Duncan, Jorge Versilo, Altemar Dutra, Gonzaguinha, Sivuca e outros nomes consagrados. Seu livro infantil “O Vale Encantado” virou disco, musical e vídeo e foi indicado pelo MEC (Ministério da Educação)".
Texto e foto retirados do Sitio oficial:

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Responsabilidade: uma conquista cara

Não tenho a menor pretensão de fazer deste blog um diário, até porque não foi com este objetivo que o criei. No entanto, já que é aqui que me coloco também na condição de leitor, então posso dizer que uma escrita pessoal tem caráter de memória... logo, a arte literária por aqui passeia. Ou não?

Bem, passeando ou não aproveito o momento para deixar aqui o que mesmo quero dizer.
Hoje, para mim, foi um daqueles dias. Dias de guerra interior. Se as mulheres têm tempo para ficarem “naqueles dias” todos os meses, conforme rege a natureza biológica, os homens têm seu tempo de glórias e inglórias. A diferença é que não perdemos sangue (com o perdão da intimidade!), mas perdemos a paciência e deixamos de lado a tal da responsabilidade.

Se tivermos contas atrasadas para pagar, desesperadamente nos preocuparemos; se o cachorro do vizinho (eliminemos a ambigüidade) invadir nosso quintal deixando fezes lá, outra confusão; se o nosso estiver solto, perderemos o ônibus porque vamos gastar muito tempo correndo atrás para pôr-lhe a coleira; se o trabalho da faculdade não estiver pronto meia hora antes de entregar, a cabeça esquentará a ponto de explodir – já não há como pensar! E ainda: se tivermos relatório de trabalho para apresentar ao chefe e este possivelmente encontrar mil defeitos na primeira olhada, a desejo é de desaparecer da empresa para o resta da vida.

Isso é apenas uma suposição para justificar como às vezes somos levados a pensar que, para eliminar os problemas, seria mister dormir por semanas ou até meses e só acordar quando tudo estiver conforme a nossa vontade. Foi nisso que pensei hoje...Tive vontade de não sair da cama, sim! Ficar lá até a vida resolver sozinha todos os meus problemas. E por que não os do mundo?

Não estou entediado, não estou aborrecido, nem em crise existencial. Não! Não é crise de identidade o que vivo nesse momento... como muitos hoje adoram adotar tal conceito para justificar seus conflitos. Sabe quando estamos naqueles dias que se pudéssemos não sairia da cama? Pois é, é assim que estou me sentido. Este tipo de comportamento faria minha avó dizer - se estivesse comigo - "é coisa de quem levanta da cama de cueca ao inverso!" Mas não é. É coisa de quem tem muita coisa a resolver e não sabe por onde começar. Daí surge o desejo de se eximir das ‘responsabilidades’ (palavra que meu pai tanto me martelou aos ouvidos). Responsabilidade, responsabilidade, responsabilidade: quando a gente a adquire, sente seu peso e o desejo de dormir e acordar criança.

jr