sábado, 29 de maio de 2010

O Outro – uma autoconstrução

O Outro estava logo ali olhando para ti quando tu achaste que te desejava. Tu continuas a pensar que ele te deseja, porque ele é diferentes de todos os Outros. Tu insistes a olhar, às vezes desvias o foco; miras outras margens, mas uma força te puxa para o outro lado onde ele está. Tu o conheces mais do se possa imaginar, tu sabes do toque que ele carrega entre os dedos, tu sabes das mãos fortes que insistem em continuar. Tu também podes evitar que elas continuem, mas tu insistes pensar que há uma força muito maior que te prende a elas. Tu pedes para continuar. Não, tu até acredita que não tem palavras para impedir que ele se aproxime e te mantenha bem junto. E pior: tu achas que tuas próprias palavras são vazias de sentido nesta hora. Ele não tira os olhos do teu alcance, poderia fazê-lo; mas é masoquista, tu julgas. Tu és covarde porque não te afastas por conta própria e espera que alguém te chame para sair dali. Mas ninguém te chama, e tu não partes, preferes mirar, mesmo tentando fingir que olha por entre seus ombros para alguém atrás. Ele olha para trás, não há ninguém, e ele é o Outro por quem tu estás sob forte atração. Tu o admiras pelo corpo que tem, pelo cheiro que expele, pelas roupas que veste, pelo modo como fala, pela boca , pelos olhos. Mas tu não percebes que em tudo o que se refere a ele não há defeitos. Tu estás sob a cegueira da paixão por este Outro. Não te dás conta de que procurar a cura é abrir-te à possibilidade de descobrir que apenas tu o desejavas, mas ele, o Outro, é somente uma fantasia que tu criaste quando o viu passar por ti e deixar o perfume do desejo te contaminar.

jr