Diz a sabedoria popular que a Amizade é a irmã mais próxima do Amor. Na cultura ocidental, ambos caminham juntos, chegando, a depender do contexto, a confundirem-se.
Hoje, num tempo em que se apela tanto pelo cultivo do Amor entre as pessoas — em contrapartida aos efeitos do individualismo e do egocentrismo provocados, muitas vezes, pela desconfiança no outro — percebo um esquecimento da prática da amizade. Mulheres sempre sonharam por um amor perfeito. Lembremos, pois, do mito do príncipe encantado (que virou sapo). Homens também idealizaram um amor celeste, puro, misto de maternidade e sensualismo. Não esqueçamos o complexo edipiano pensado por Freud.
Voltando às cobranças (ou às compras). Quem nunca ouviu a diplomática pergunta: “Você me ama? Diga-me: você me ama?” Mas, raramente se ouve: “Você é meu amigo ou minha amiga? Você gosta de ser minha amiga ou meu amigo?” Não! A amizade não vem mais caminhando no mesmo rumo do amor já faz tempo. Amor hoje é projetado em espelho, cujo reflexo tem que corresponder às nossas expectativas e exigências. E quando não ocorre é porque nós não o projetamos antes. Amor hoje virou sinônimo de sexo, seja real ou virtual. O importante é ouvir no final a resposta positiva da pergunta: “foi bom pra você?”
Por outro lado, assim como o amor, a amizade é traída. Assim como no amor, deve-se dar chance ao amigo ou à amiga a explicar-se diante do possível cheiro de traição. Assim como o amor, a amizade deve ser, sobretudo, cultivada, reavaliada, reconstruída, repensada e comemorada constantemente.
Construamos, pois, amigos. Alguns vêm e ficam, outros vêm e vão. Uns mantêm-se presentes, outros perdem-se na multidão. Uma coisa é certa: ter amigos é se achar no dever de proteger e no direito de ser sempre protegido. Amigos não se qualifica como verdadeiros ou falsos, pois são sempre verdadeiros. Os que julgamos falsos se auto-revelam, tavez, como traidores de um sentimento nobre que eles mesmos se eximiram de cultivar.
Amemos então nossos amigos, sejamos amigos de nossos amores. É mais uma chance que temos de dar um novo sentido à nossa vida.
2 comentários:
Excelente reflexão, caro Nilson, que a mim pessoalmente me diz muitíssimo.
As diferenças e as semelhanças entre o amor e a amizade são todas elas questões para as quais - quantas vezes! - tenho sentido sérias dificuldades para encontrar alguma resposta minimamente satisfatória... E já vivi momentos em que a fronteira se esbateu...
Amizade com amor e amor com amizade seria sem dúvida o ideal!...
Fico feliz por pensares assim!
Abraço! :-)
Obrigado, nobre português!
É sempre bom refletirmos sobre estas questões.
Que a amizade e o amor então continuem ao seu redor!
Abraço!
Postar um comentário