Quando alguém me pergunta: de que personagem da literatura brasileira você mais gosta? Não penso duas vezes e respondo: Macabéa. Respeito opiniões contrárias, afinal não conheço todas as personagens da ficção brasileira, mas reservem-me o direito de colocar a maior invenção da figura (des)humanizada de Clarice Lispector no podium. Macabéa provoca, no leitor, um misto de inúmeros sentimentos mais macabros e ternos ao mesmo tempo. Incrível!
A vez primeira que li A hora da estrela, estava ainda na oitava série, e só consegui sentir pena da nordestina que amava os pregos. Depois disso, li no final do segundo grau para fazer vestibular da Ufba. Dessa vez, senti remorsos e culpa quando a personagem foi atropelada, sentimentos que Olímpio deveria ter, e não teve. Mas tarde, li na faculdade - cujo olhar crítico, muito mais preocupado em tirar uma nota boa através da análise, me levou a não sentir nada. Conclusão: Macabéa também desperta sentimento indefinível ou vazio.
Entretanto, hoje, pela primeira vez (podem rir), assisti ao filme A hora da estrela (Diretora: Suzana Amaral e atores: Marcélia Cartaxo, Macabéa, e José Dumont, Olímpio), graças a um amigo que me passou uma cópia.
Com o olhar preso à tela do computador e os ouvidos atentos a cada poesia proferida pela personagem Bebéa (somos íntimos!), não queria que o filme terminasse nunca. Primeiro porque já sabia o destino trágico da doce menina e não queria enxergar a realidade do fim nua e crua. E, segundo, porque eu não estava preparado para encarar um novo sentimento que, certamente, me seria despertado.
Hoje, mais um poesia da personagem clariceana ficou em minha memória. Vou dar o nome de “Currículo de Macabéa” a seguinte fala:
Sou datilógrafa
Sou virgem
Gosto de Coca-Cola
Ah, deixe eu dizer, o sentimento que tive ao terminar de assistir à película hoje foi alegria, simplesmente alegria, por saber que Bebéa morreu feliz.
E você, o que sentiu ao encará-la pela primeira, segunda, terceira...vez?
jr
4 comentários:
Legal esse post. Assim é que devem ser as aulas de literatura. Com humor e invenção.
Gostei da Macabéa revisitada com pepsi twist... Clarice está em exposição aqui no Rio. Semana que vem vou com minha turma por lá.
Obrigada pelas suas visitas.
Clarice é minha paixão, e eu concordo com você, Nilson: Macabéa é das melhores criações dela e ma literatura brasileira. Vc. gostou do filme?
Olhe, quando tiver um tempinho vai lá no blog, tem umas meninas esperando por você...
Na primeira, segunda, terceira e quarta vez que li A Hora da Estrela, senti a mesma coisa, ora uma vontade imensa de levar Maca (também somos íntimas!) para casa e cuidar dela, como de uma irmã, ora tinha vontade de dar nela uma sacudida, pra ver se ela acordava pra vida!! =) Trabalhei com esse filme na IC, ano passado, Nilson e, realmente, é maravilhoso, assim como a novela clariciana!! Maca desperta sentimentos múltiplos e, às vezes, indefiníveis!! Beijo!!
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