segunda-feira, 11 de junho de 2007

Crônica: Um brinde ao Latim

Por Jocenilson Ribeiro

A teoria de Lavoisier, embora voltada para a transformação da matéria, pode ser relacionada à linguagem humana, e isso se evidencia especificamente quando analisamos o processo evolutivo de uma dada língua. Isso porque ainda que caia em desuso, uma língua não morre jamais. Ela estará sempre corporificada nas suas descendentes ou ainda usada puramente à revelia da percepção das pessoas.

Somos usuários de um idioma cujas raízes estão num passado que se faz, mais do que supomos, presente. Pensemos no Latim, da qual a língua portuguesa é oriunda.

Convivemos diariamente com palavras e expressões tão fortemente incorporadas ao idioma que uma dona de casa, por exemplo, ao optar pelo fósforo Fiat lux — obviamente por ser mais barato — nem imagina que aquela marca está escrita em latim e significa "faça luz". Da mesma forma, ao comprarmos um Acqua brasilis numa loja de perfumes, estaremos, com certeza, optando por um cheiro amadeirado e forte, pensando muito mais na conseqüência sedutora daquela fragrância do que na raiz latina deste nome: água do Brasil. A saber: brasil é nome de árvore já conhecida há séculos pelos europeus.

Nas mais diferentes situações do nosso cotidiano, desde a mesa de um bar, numa tarde de domingo, tomando uma cerveja Primus, depois de uma aula de revisão no Curso Millenium, estamos convivendo intimamente com o latim. E por falar em intimidade, há uma situação que se não for metáfora é loucura: o preservativo Olla. Todos sabemos da necessidade dele, mas isso nos causou um certo espanto quando constatamos que Olla significa panela, marmita. É... de fato, faz sentido a relação. Definitivamente, um preservativo com uma acepção de recipiente para armazenar alimento é uma metáfora! Não esqueçamos que Amon e Eros são também nomes de preservativos, cujos significados estão diretamente relacionados ao deus da força criadora da vida e ao deus do amor sexual, respectivamente.

Já que estamos nesse terreno amoroso, com ou sem preservativo, uma mulher moderna não pode prescindir do planejamento familiar, e aí entra em cena o Femina, anticoncepcional que significa fêmea, mulher.

Na verdade, seriam incontáveis os exemplos que poderíamos suscitar aqui: é Fiat, marca de carro; Lux, sabonete; Nivea, linha de produtos para beleza; enfim, há, de fato, muitas palavras que, assim como preconizou Lavoisier com sua teoria sobre a constituição da matéria, se transformaram e outras e muitas outras que, na contramão desta teoria, estão vivas e fortes em nosso cotidiano.

Comemoremos, pois, a longevidade da língua latina; propomos um brinde, saboreemos um conhaque Natu Nobilis, afinal ele é nascido para os nobres, portanto, é nascido para nós.
(Texto elaborado com a colaboração de Adriana Sanatana, Ana Maria Portela, Bruna Leão, Cícera Cerqueira, Joedson Teles, Nayhara Santana, Renata Pereira e Thiago Silva, na disciplina Língua Latina I, ministrada pela professora Valéria Ribeiro-UEFS, 2005).

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