E quem disse que abrir porta de carro para uma dama é cafonice?
Andava eu meio desatento numa destas ruas tímidas da cidade luminosa de São Carlos. Ainda era cedo se levarmos em conta que às 19h não é hora para se encher os bares no sábado à noite! Mão única numa rua não muito plana. O vento frio levava minhas mãos gélidas aos bolsos do casaco e contrastava com o ar quente que saia de minha boca ‘esfumaçante’.
Brinquei um pouco com isso como um menino que descobre o lado bom do frio pela primeira fez. Em poucos segundos, transpus-me dali a outros lugares, às margens do Sena talvez, na velha Paris, tendo a meu lado uma dessas personagens cinematográficas de filmes de romance fajuto. (Às vezes, quando caminho sozinho à noite, por lugares que não me manifestam algum medo da violência urbana, apresenta minhas divagações).
Um pouco mais adiante, um fusca preto (modelo novo) passou por mim naquela rua calada e parou a dois quarteirões do semáforo, que permitia minha passagem. Vi então um rapaz sair do carro e dirigir-se a outra porta abrindo-a para a saída de uma moça, que segurava sua mão. Inicialmente, imaginei que se tratasse de uma mulher chegando do hospital talvez e devesse ser acompanhada com bastante cuidado. Todavia, notei que se tratava de uma bela moça em traje de cerimônia acompanhada de seu deferente parceiro.
Segui o rumo imaginando o destaque daquela linguagem quase anacrônica se não fosse a importância de sua funcionalidade nas relações afetivas. Obviamente, mandar cartas perfumadas ao outro, puxar a cadeira, abrir ou fechar a porta do carro para a parceira hoje serve apenas como histórias de nossas avós, motivos de piadas e risos e saudosismo de um tempo que não vivemos, mas que permanece no imaginário coletivo, na memória de leituras e de conversas antigas. Deve ter sido por isso que seria mais coerente para mim imaginar que o fato que me chamou a atenção só poderia tratar-se de um caso de saúde, não de um romantismo à moda antiga como apresentou aquele casal balzaquiano.
Num momento em que as notícias sobre violência contra a mulher são mais comuns, se eu dissesse que teria visto um homem atropelando dolosamente uma moça, talvez convencesse mais o leitor; no entanto, acredite, a cena romântica naquela rua pacata foi verdadeiramente um clássico da vida real.
7 comentários:
É mesmo difícil encontrar um cavalheiro assim nos dias de hoje. Exceto, claro, meu amigo Nilson! Abraço e saudades...
Sou a favor do romantismo e convencionalismo educacional, ou seja, ser o tipico cavalheiro de outrora...rs
abraço, ate
Volte ao blog sempre que quiser.
Hahaha
Tragicômico esse último parágrafo. Uma crônica que está mais para conto...
É raro mas existe sim viu Nilson, e sou totalmente a favor desse tipo d comportamento, as mulheres q têm, gostam muito, e as q não têm, são loucas pra ter, mesmo q não admitam.Valeu pela visita!;)
Mas agora ta na moda o resgate de valores. tem a cena de um filme que nunca vai sair da minha cabeça. Acontece no "Era uma vez na América". Robert de Niro empresta o carro pro pupilo levar a namorada no cinema. Fala pra ele abrir a porta e esperar que ela levante o pino (trava) da porta enquanto ele dá a volta pra entrar. Se ela não levantar, nunca vai servir como esposa.
Acho que a educação cabe dos dois lados. muitas vezes são elas que não representam. hahahah.
Olá!
Engraçado é que vejo essa cena com mais frequência que vc possa imaginar :)
Ainda bem que existem pessoas românticas :)
abraço
Gi
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