domingo, 20 de dezembro de 2009

Praça da República de Valença: uma fonte sem cascata

(Foto N. Ribeiro)

O tom de fim de ano, às vezes, me incomoda, sobretudo porque começo a pensar sobre o tempo e resgatar algumas memórias. Já disso isso antes aqui, mas não serei tautológico. O fato é que - depois de quase um ano longe de casa, da cidade que nos viu crescer, da família, dos amigos - bate uma alegria por rever tudo isso e uma tristeza de muita coisa já não está mais em seu devido lugar. E a praças vão ganhando novas molduras...

As praças sempre me dizem alguma coisa, me tocam e me faz pensar. E a Praça da República, no centro de Valença, me leva a tempos de saudade. Lembro-me que era ali que, em fins de ano, juntávamos alguns colegas para conversar, falar besteiras, contar histórias, dizer muito do que vivíamos. Lembro-me também, pouco depois, início dos anos 2000, quando fazíamos colegial, que revíamos colegas adiantados nos estudos já falando de suas experiências em suas faculdades, enquanto nós nos projetávamos para viver logo a seguir um tempo de facul. Dez anos! Bem, isso era estranho para nós, mas não impossível, afinal era um novo objetivo a ser traçado. Para alguns a faculdade representava status, para outros, distinção entre o povão e o povinho, os menos pobres o os menos pobres, o medíocre e os dotados de saber. E que saber! Enfim, a praça representava, em outras situações, uma passarela para dondocas cheias de egos, mas vazias de saberes. E dez anos se passam num bater de pestanas.

Pouco depois estava eu saindo dali, e a Praça da República tornara-se cada vez menos familiar a mim - dadas as circunstâncias acadêmicas e profissionais. Os amigos e colegas também já não a frequentavam por estes ou outros motivos.

Logo o prefeito satisfez sua vontade extinguindo do espaço público o coreto. Sim, coreto. Cidades antigas costumam ter coretos. Que coisa mais antiquada uma “piiii”! Gostava sim do coreto, e daí? Então... veio outro prefeito e desfez o grande feito do anterior, mandando erigir um coretão - feio de doer! Não demorou nada e, achando que este duelo de egos precisava de muitos espectadores, um terceiro prefeito veio e refez a praça, deu uma nova cara, levou ao chão algumas árvores balzaquianas, desfez do coreto, armou uma arapuca de concreto e criou uma fonte luminosa, que vive seca e sem nada iluminar. Ao redor da praça algumas construções: Igreja Batista, uma academia, algumas farmácias, duas clínicas, um prédio de dois pisos, uns barzinhos, a velha sorveteria, uns casarões antigos (prestes a desabar?) contrastando com a “modernidade”, e o teatro dos anos 40 resistindo. Nunca o vi aberto a visitas muito menos a algum espetáculo, acredite, mas está lá mumificado, cuja fachada aparece sob uma tinta envelhecida. Ah, dizem que lá funciona o Juizado de Menores.

Andei pelos quatro cantos da praça há poucos dias à noite e tentei achar algo familiar àqueles tempos de colegial. Quase nada estava lá, exceto os casarões e o teatro; e este último não me resgatou nenhum sentimento nostálgico, afinal em nada contribui para minha cultura pessoal, já que perdera sua função muito antes de eu andar por ali ainda rapazote.

Enfim, a ironia: nestes 10 anos, a praça viu praticamente quatro mandatos municipais e passou por várias plásticas; hoje, vejo algumas luzes e uma árvore natalina figurando a maquiagem de seu rosto modernizado. Algumas crianças brincam enquanto seus pais conversam sentados nos bancos de mármore e jogam palitos de sorvetes no chão – quase não há baldes de lixo. Não se veem adolescentes paquerando como antes, muitos menos adultos. Por outro lado, a fonte luminosa aparece perenemente escura e sem cascata... o coreto já não faz parte de seu rosto, pelo menos como antes.

jr

Fonte: 2ª foto.