domingo, 28 de abril de 2013

«Le temps d’une aventure» humaine

«Le temps d’une aventure» humaine

(Attencion: ces textes doivent être encore revisés.
Merci de suggérer quelques révisions/corrections)


Ayant commencé mon stage à Paris, et en vivant cette expérience qui a bien marqué ma vie, je n'ai rien écrit sur ce blog. Il y a nombreuses de raisons. Je ne vais même pas l’énumérer, ou tenter de me justifier. C’est inutile et, quand même, je ne me sens pas obligé de le faire. Peut-être qu'un jour je vais consacrer quelques minutes pour écrire quelques souvenirs liés à cette expérience, des échanges, sur ce monde des sens que j'ai rencontrés habitant en Europe.

J'ai aujourd’hui une raison particulière. En France, j'ai eu l'occasion de voir d’excellents longs-métrages (français ou étrangers), d'autres moins bons. Mon jugement et mon évaluation descendent au goût personnel, la préférence pour certains genres et la manière comment ils se déroulent, le récit, la forme, l'expression, le contenu, la narrative, le thème, etc. Enfin, je ne suis pas du tout aucune paradigme critique et scientifique, et comme je suis profane par rapport au domaine technique, je ne suis pas obligé de faire des analyses. Voici donc des réflexions relatifs à ce que je remarque dans le monde en ce que concerne à certains expériences humaines.


Donc j'ai regardé le long-métrage Le temps d'une aventure, réalisé par Jérôme Bonnel, et joué par Emmanuelle Devos et Gabriel Byrne. Je dirais que c'est un film très touchant! Pour une raison quelconque, je me suis retrouvé dans certaines scènes, que ce soit dans le métro en regardant l’autre ou n’importe quoi, que ce soit sur dans les belles rues qui nous cachent dans l'individualisation, dans l'homogénéisation ou dans la neutralisation de la ville. Ce long-métrage ne pourrait bien que représenter la ville de Paris comme ça: des sujets de tout le monde, des regards indirects, des mots silencieux, de la touche presque nulle, mais une volonté, une volonté qui défie transgresser les limites du «moi» et de «l’autre»... une volonté d’être avec l’autre car que cet autre lui donne des sens.

À mon point de vue, le jeu de deux personnages dans les films, l’engrènement, les mots simples et bien choisis et dits au bon moment nous permettent de rentrer dans un univers sensible de deux personnes qui ne se connaissent pas trop bien, mais ils ont besoin de profiter de « le temps d’une aventure » pour ne pas perdre quelques secondes bien que le risque de se tromper est très grand. Mais quand même peu importent les risques.

En fait, au lieu de faire quelques clichés – par exemple « Je t'aime », « nous sommes tombés amoureux », « nous serons ensemble pour le reste de nos vies » - le drame romantique révèle entre les lignes, dans les silences, les lacunes, un désir, une volonté, un coup de pouce pour la découverte de l'autre - cet être qui nous est étranger et en même temps est assez intime. Donc je pense toujours que dans les histoires d'amour, l'autre est celui que nous désirons à partir d’un coup d’oeil qui passe pour le corps, gagne les sens,  en prenant les sens et en faisant sens ... jusqu’à atteindre nos cœurs et nos têtes, parce que l'amour est cette chose absurde qui oscille entre le cœur et la tête dans un univers de sens. L'amour n'existe pas, sauf dans cette relation. Il est plus beau quand il y a la réciprocité. Il ne se matérialise pas ni mûrit quand il n’y a pas cette réciprocité. L’amour c’est plus douloureux quand il y a des obstacles de divers ordres - surtout quand les deux se désirent, mais un univers extérieur les empêche. Parfois, cela le rend encore plus solide.

En bref, Le temps d'une aventure c’est ça. C'est un film qui montre l'impulsion d'un désir et, en même temps, deux peurs : celui où on n’a pas la possibilité de vivre un moment - bien que court – d’un amour plus fort qui lui est présent et vivant ; celui où le plongeant dans un amour fort, bien qu’on sache que cette aventure a quelques secondes pour finir. 

Qu’est-ce qu’on fait dans une telle situation comme ça ?

Parfois je trouve que le temps est un allié et notre éternel ennemi !


[Regardez la bande d'annonce ici]

O tempo de uma aventura humana

Depois de ter começado meu estágio em Paris, vivendo esta experiência que tem marcado muito a minha vida, nada tenho escrito neste blog. Há inúmeras razões. Nem vou listá-las, nem tentar me justificar. É inútil e não me sinto na obrigação de fazê-lo. Talvez um dia eu dedique alguns minutos para escrever algumas memórias relativas a esta experiências, as vivências, as trocas, este mundo de sentidos que tenho enfrentado aqui na Europa.

Hoje tenho uma razão especial. Já tive a oportunidade de ver excelentes filmes (franceses ou estrangeiros), outros nem tão bons assim. Meu julgamento e avaliação vêm de gosto pessoal, preferência por determinados gêneros e modo como se desenrolam a narrativa em forma, expressão, conteúdo, enredo, tema; enfim, não sigo nenhum paradigma crítico-científico e, sendo leigo em conhecimento técnico, não me sinto na obrigação de fazer análises. Eis então impressões relativas ao que percebo do mundo, das experiências humanas.

Vi com um amigo Le temps d’une aventure, de Jérôme Bonnel com Emmanuelle Devos e Gabriel Byrne. Eu diria que é um filme muito tocante! Por algum motivo, eu me vi em algumas cenas, seja no metro ao olhar para o nada ou para o outro, seja nas ruas belas ruas do cotidiano individualizante, homogeneizante ou neutra. Nenhum filme senão este poderia representar uma Paris assim: sujeitos de todo o mundo, olhares indiretos, palavras mudas, toques quase nulos, mas uma vontade, uma vontade que desafia transgredir os limites do "eu" e do "outro", uma vontade de estar com o outro porque este outro lhe dá sentidos.

A interpretação das duas personagens, o entrosamento, as palavras simples e bem escolhidas e ditas no momento adequado permitem que entremos num universo sensível de dois indivíduos que mal se conhecem, mas precisam aproveitar “o tempo de uma aventura” para não desperdiçarem os segundos ainda que o risco de errar seja muito grande. Pouco importa os riscos.

O drama romântico, em vez de emitir alguns clichês - como “eu te amo”, “estamos apaixonados à primeira vista”, “vamos ficar juntos para o resto da vida” - revela nas entrelinhas, nos silêncios, nas lacunas, um desejo, uma vontade, um impulso pela descoberta do outro – este ser que nos é estranho e ao mesmo tempo é tão íntimo. Sempre penso que, em história de amor, o outro é este sujeito que a gente deseja a partir de um encontro de olhar que vai se estendendo para o corpo e ganhando sentidos, tomando os sentidos, fazendo sentido... até atingir os corações e as cabeças, porque o amor é esta coisa absurda que oscila entre o coração e a cabeça num universo de sentidos. O amor não existe a não ser nesta relação. Ele é mais bonito quando há reciprocidade. Ele não se concretiza nem amadurece quando não há esta reciprocidade. Ele é mais doloroso quando há impedimentos de diversas ordens - sobretudo quando os dois se desejam, mas um universo exterior o impede. Às vezes, isso ainda o faz mais sólido.

Enfim, Le temps d’une aventure é isso. É um filme que mostra o pulsar de um desejo e, ao mesmo tempo, de dois medos: o de que não ter a oportunidade de viver um momento – ainda que curto - de um amor forte que lhe é presente e vivo; o de mergulhar no amor forte ainda que saiba que tem seus segundos contatos para acabar.

O que fazer numa situação como esta?

Às vezes penso que o tempo é um aliado e nosso eterno inimigo!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Impressões de um pedaço do mundo

(Foto: N. Ribeiro)


Faz tempo que aqui não escrevo nada. Não me sinto culpado por isso, afinal este blog é uma espécie de canteiro. É um lugar onde expresso meu barulho, meu silêncio, uma maneira de olhar o mundo. Não sei bem dizer qual é sua real função. Talvez ele não tenha mesmo que apresentar uma função. É um blog, não um diário, um periódico jornalístico.
Ocorre que hoje vim aqui escrever. Falar, dizer alguma coisa diferente.
Desde que atravessei o Atlântico – e aqui ficarei por um tempo -, disse que iria escrever com mais frequência, disse ainda que eu deveria publicar alguma coisa sobre as impressões desse novo pedaço de mundo: Paris! Disse que faria com frequência. Menti! Hoje faz quase 42 dias e um punhado de horas que estou aqui, e só agora escrevo.
Não prometo nada, devo escrever sempre que estiver tempo, vontade, feliz ou triste. Exijo apenas uma coisa de mim: escrever na minha língua materna, mas também em francês... os equívocos linguísticos (de qualquer ordem: ortográfico, sintático, semântico...) fazem parte da aquisição de qualquer língua; vou resolvendo com o tempo e com o aprendizado.
Agradeço àqueles que me enviarem sugestões.

Impressions d’une partie du monde

Il y a beaucoup de temps que je n’écris rien ici. Je ne me sens pas coupable pour ça; au fond, ce blog est une espèce de cave. C’est un endroit où je peux exprimer mon bruit, mon silence ; enfin, c’est une manière de regarder le monde. Je ne sais pas dire quelle est sa réelle fonction. Peut-être, il n'a besoin de présenter, en fait, une 
fonction spécifique et vraie. C'est un blog, pas un journal, un 
hebdomadaire, etc. En effet, aujourd'hui, je viens ici pour écrire; pour parler, pour dire quelque chose un peux différente.
Donc, depuis que j'ai traversé l'Atlantique - et je vais rester là pour un certain temps -, je’ai dit que j'allasse d’écrire plus souvent, j’ai dit aussi que je dusse de poster quelque chose sur les impressions d’une partie du monde: Paris! J’ai parlé que je fisse fréquemment ça. J'ai menti! Aujourd'hui, il y a environ 42 jours et quelques heures que je suis là, mais seulement maintenant j’écris quelque chose.
À moi je ne promets rien; je dois écrire toujours quand j’ai du temps, de la volonté ; quand je suis heureux ou triste. Je ne demande qu'une chose de moi: d’écrire dans ma langue maternelle, mais aussi en français... les erreurs linguistiques (il n'importe pas quel ordre: orthographique, syntaxique, sémantique...) font partie de l'acquisition d'une langue. Je vais les corriger dans les autres textes avec le temps et l'apprentissage.
Je vous remercie de m'envoyer vos suggestions.


jr

quarta-feira, 6 de junho de 2012



poema sem face

A M. Arruda

Noites frias, e o silêncio bem aqui dentro completa-me
um fio de luz perfura esta folha de papel sem textura e tinta
palavras sem nexo, caneta que falha aos dedos trêmulos.

Falta-me a luz do sentido que foge em meia sintaxe,
Encolho-me aqui na falta de ti – inteiro – lutando contra um poema
– que me esvazia assim longe das noites quentes e de tua face.


jr




Foto: J. Ribeiro

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Entre Houaiss e ciganos: o que pode e o que deve essa língua?



Entre Houaiss e ciganos: o que pode e o que deve essa língua?

Por Jocenilson Ribeiro

Depois de ler e reler as matérias no portal UOL e na Folha [cf. textos clicando nos links] e de conversar com amigos e colegas especialistas ou não no assunto, exponho o que penso a respeito. Respeitando o lugar dos especialistas em dicionário (lexicologia, lexicografia etc.), emito minha opinião a partir de concepções gerais da Linguística e daquelas disciplinas em tempo de graduação.
Qual é a função primeira de um dicionário? Penso que seja apresentar - grosso modo -, aos falantes de uma dada língua, os termos que compõem o léxico desta língua. Contudo, existem vários tipos de dicionários, que variam conforme função, especialidade, modalidades (bilíngues; monolíngues), tamanho (mini, “completo”) etc. Um dicionário é o lugar em que se “estabilizam sentidos”, lugar onde elas, as palavras, dormem; seus sentidos ali são latentes, mas o funcionamento delas se dão no ato de enunciação (cf. Benveniste, 2005), no momento em que enunciador e enunciatário em situação concreta fazem HAVER SENTIDOS; portanto, isso ocorre fora dessa gaveta que se chama dicionário.
Não podemos perder de vista o seguinte: o trabalho lexicológico deve apresentar os significados, a origem, a morfologia, o conceito e o uso de termos/palavras numa comunidade de falante - seja ela em nível local, regional, nacional, internacional... Então, visto assim, podemos dizer que esse trabalho é analítico e descritivo, porém, jamais prescritivo, normativo e censurador porque não cabe a esta ciência (e acredito que com as outras não deva ser diferente frente a seus objetos) omitir o uso e determinadas características destes termos ainda que eles apareçam nas situações reais de fala e de escrita.
Recentemente, passamos a notar que o verbo FICAR, por exemplo, passou por um processo de semantização, diferentemente daqueles usos com os quais estávamos acostumados.  A acepção ganhou sentido(s) afetivo(s) que varia(m) gradualmente conforme grupos de sujeitos, temporalidade nas relações de “namoro” etc... O dicionarista precisa então atualizar o dicionário o tempo todo porque o léxico de uma língua é vivo e movente, jamais se estabiliza como talvez queira e/ou pense o MPF (Ministério Público Federal) para com o tal do Houaiss.
Então, diante dessa minha longa argumentação, é papel do linguista (seja um lexicólogo, lexicógrafo, dicionarista, terminólogo etc.) descrever os fenômenos linguísticos - neste caso o surgimento, a origem, o uso de termos etc. – como aparecem ou apareceu num dado tempo na sociedade. Se ele é ou não pejorativo, se ofende ou não, se atende melhor a este ou àquele grupo social, não cabe ao dicionarista tomar esta ou aquela posição, que apenas deve por em dicionário tal como o uso aparece. Nada o assegura de que tal uso vai se estabilizar. É claro que, em práticas científicas, não se anula nunca as escolhas, os valores, as posições ideológicas, as determinações dos sujeitos envolvidos sejam eles na condição de observador ou de observado. Engana-se quem acredita que isto não acontece.
Ocorre que esta medida infundada do MPF, com base nessa vontade de verdade (para usar uma acepção foucaultiana, Cf. Foucault, 2002) assentada nas práticas discursivas do politicamente correto, vai de encontro com o trabalho científico, porque o objetivo é censurar, normatizar, prescrever, proibir, abonar, calar ... com base no que se deve ou não dizer numa língua. O problema então é de outra ordem: façam-se então dicionários didático-pedagógico-doutrinantes, não aqueles capazes de apresentar como os fenômenos linguísticos têm se manifestado. O preconceito, os estigmas, a manutenção dos estereótipos surgem e se perpetuam da e na sociedade, partem das pessoas, das instituições; o dicionário é um mero instrumento que apresenta uma faceta muito mínima de suas práticas, dando-nos a ver como se pensou e ainda se pensa, ainda que em forma de recorte, num lugar e espaço.
É ingênua a tese de que - tentando calar as palavras, deixá-las muda como se isso fosse possível - se mudam as crenças e os valores dos homens. Não! A palavra, por mais cruel que ela venha a ser, é a espessura intersubjetiva dos usuários de uma língua; muda-se o modo de eles agirem no mundo que elas juntamente vão ganhando outras formas, adquirindo novas semioses. Se as noções de “cigano”, vistas no Houaiss, não mais condizem com o modo como pensamos e concebemos as coisas hoje, isso não nega o fato de que condisseram, a sua maneira e em algum momento de nossa história, com o modo de falar e agir no mundo. Então por que tentar bani-las do dicionário? Seria um modo de nos envergonhar de nossas práticas de outrora e tentar corrigir nossos “erros de significação”? Não tenho dúvidas de que, se medidas como essas empreendidas pelo MPF forem levadas tão a sério, nossos sucessores da palavra nos próximos 200 anos vão rir de nossas ingenuidades ou banir de seus dicionários palavras com as quais lidamos hoje tranquilamente e que para eles poderão revelar a maior ofensa, agressividade e mazelas humanas. Quem garante que não vão sentir-se envergonhados com o modo como distribuímos a palavra, a renda, os salários entre homens e mulheres, as práticas políticas, a administração dos bens públicos, o tratamento aos diferentes que constituem nossa sociedade? Do mesmo modo, a palavra – signo ideológico por onde e com a qual construímos nossas máscaras, mas tentamos vender ao outro a nossa maior pureza e integridade subjetiva como se o outro não fosse capaz de nos interpretar a sua maneira e perceber que inconsciente ou não todos nós dissimulamos a vida inteira.
Voltando à questão central, penso que nosso notável equívoco está em acreditarmos que um dicionário – instrumento em que ‘se tenta imobilizar/imortalizar os significados e conceitos’ – dá sentido às coisas, quando, na verdade, é buscando nele as palavras que procuramos construir os sentidos em nosso modo de pensar, de dizer, de escrever... Se fosse diferente, não se veriam várias acepções para um único termo como, por exemplo, FICAR (cf. Houaiss, 2007).
Vai outro exemplo mais ilustrativo sobre o papel do cientista contraposto às vontades de instituições movidas pela vontade do politicamente correto. Se um biólogo descobre que golfinhos machos apresentam comportamentos semelhantes àqueles vistos frequentemente entre “casais” formados por macho e fêmea, simulando uma relação de acasalamento, seu papel é, simplesmente, descrever o fenômeno, mostrar que isso acontece ou passou a ser visto em comunidades desses animais. Não cabe ao pesquisador evitar expor, com base em valores e crenças pessoais de ordem X ou Y, este fenômeno. Por outro lado, é papel do biólogo (com ou não auxílio do livro didático) levar esse fenômeno aos estudantes, à sociedade, a quem se interessar... Se o MPF resolve, por outro lado, proibir o uso do material didático em que conste esse fenômeno, sob pena de que se está tentando justificar ou sustentar a homossexualidade em certos mamíferos (inclusive os humanos), não é mais uma questão de ciência à vista do que o biólogo apresentou, e sim de norma, valor e juízo de direito, a menos que se prove o contrário. Daí, tal ilustração seja perfeitamente cabível para pensarmos na função de um dicionarista, lexicólogo, lexicógrafo, terminólogo etc.
Hoje, parece que mais do que em outras épocas, sob a vulgata do politicamente correto de que falei há pouco, há uma tendência generalizada (leia-se: transcendem-se os limites nacionais) de se proibir o uso de certas palavras: denegrir, judiar, negro, preto, cadeirante, baianada, homossexual-ISMO, palhaçada etc. servem-nos para ilustrar. Muitos esquecem que a origem e a recorrência de termos na sociedade refletem justamente os valores, as crenças, os saberes, as verdades, as práticas, as subjetividades e o modo de ver o mundo e de interpretá-lo pelos indivíduos... se estão corretos ou não, se deveriam ou não usar certos termos e dizer certas coisas é uma questão de mudança de mentalidade individual e coletiva construída na escola, na família e noutros diversos espaços de construção de conhecimento, mas não tentando evitar que este ou outro conceito esteja num dicionário, até porque não se fala qualquer coisa em qualquer momento e de qualquer lugar (cf. Foucault, 2001). Afinal, de que adianta mostrar apenas um SENTIDO POSITIVADO num dicionário se é justamente na vivência dialógica e nas interlocuções que os diversos outros sentidos aparecem, fortalecem-se ou simplesmente caem em desuso? Acho que seria tapar o sol com a peneira, subestimando, desse modo, os usuários de uma língua em pensar com a própria linguagem por meio da qual constroem sua história.
No período presidencial do Lula, alguns inconformados com sua política de cotas e de bolsa família começaram a usar o termo “lulismo” numa concepção depreciativa. Vamos agora fingir que essa palavra não faz sentido e ainda, que ela denigre [ops!], deprecia, a imagem de nosso ex-presidente e por isso precisa ser banida dos dicionários como se ela nunca tivesse existido?
Não estou defendendo que se deva mesmo achar que o termo “cigano” tenha aquela acepção pejorativa e que se mantenha seu ensino e difusão com significados dessa ordem em dicionários. Longe disso. Quero dizer que, se em algum momento de nossa história tal sentido apareceu, isso se deve às condições de emergência da época (cf. Foucault 2008). E deve ser registrado quer queiram quer não, como o termo “baianada”, por exemplo.
Confesso que, quando escutei esta palavra pela primeira vez sendo numa acepção em que se referia a algo ruim, jeito de se vestir maltrapilho e descombinado (fora de etiqueta à Glória Kalil), ou uma barbeiragem no trânsito, fiquei assustado; mas jamais vou impedir que este termo apareça em dicionários nem evitar que alguém a utiliza, afinal, quando a usam não é a minha identidade enquanto baiano que está sendo ameaçada, mas uma forma (ainda que de seu uso eu discorde) de significar as coisas no mundo num olhar interpretativo de determinados sujeitos.
De uma coisa tenho certeza: quando se tenta evitar/proibir/impedir que se diga alguma coisa (tente-se calar uma voz, uma palavra), surge outra com mais intensidade ainda, de modo que a resistência seja fruto de um poder que não se sustenta por muito tempo, estilhaçando-se em tantos outros sentidos capazes de esvaziá-lo ou formar novos centros de poder e de resistência. Penso que é assim que ocorre com as práticas semiológicas e discursivas dos homens para construírem SUA história, evitando as diferentes versões das histórias.






sábado, 11 de junho de 2011

Amor sem I love you...

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Procuro um amor que não esteja ocupado, que não me cobre um tipo de amor qualquer, que não seja de um dia de namorados, nem que se reduza às flores que murcham, às maças que apodrecem e ao chantilly que dissolve. Procuro um amor que não seja comercial, que me aceite como sou, que não se transforme em carnaval. Procuro um amor que seja assim como eu sou, que não se mostre apenas pros outros, que não esteja estampado em molduras, que não me troque num fim de noite de domingo com o argumento de que o dia de se amar já passou. Procuro um amor que não tenha o dia certo pra acontecer, que não tenha a embalagem apropriada, o laço de fitas pra desatar; que não venha em caixinhas de alianças sem compromissos. Procuro um amor sem adereços, frases feitas como “I love you” em coração de pelúcia avermelhado. Procuro um amor feliz, pode ser brega enquanto se o viva, mas livre de qualquer formato já repetido. Quero um amor que não seja construído pelos outros, nem que eu me permita construí-lo sozinho, mas que seja livre de um dia eleito pelo mercado das paixões extravagantes. Procuro um amor assim: longe dos classificados... lamento se um dia eu nunca encontrar.
jr

terça-feira, 17 de maio de 2011

Oh Deus da palavra bélica!

Oh Deus! Por que fizeste de nossas línguas o instrumento da inglória? É culpa tua, Deus, que as confundiste... que permitiste que houvesse tantas línguas quando os homens subiram a maldita torre da discórdia... Agora dá nisso, Deus: a palavra é bélica, por tua causa! Oh homem onipresente, por que não deixaste as coisas como estavam caminhando, subindo, andando, caminhando? Sentiste pena dos homens e meteste as palavras em suas bocas? Por que não deixaste o homem chegar aos céus com seus grunhidos? Oh Deus, só pode ser culpa tua! Eu tenho certeza que aqueles nossos ancestrais, aqueles pais de nossos pais, de nossos pais, de nossos pais que se comunicavam com uma língua só [a bela língua, a língua pura, a mais culta, a divina e santa língua pura]... eu tenho certeza, Deus meu, que quando eles fossem subindo, subindo, subindo, subindo... e de lá do alto, quando menos percebessem, se espatifariam todos no chão em queda livre, e tudo estaria resolvido, porque eles voltariam ao pó esmigalhados. Sorte a tua, Deus, que não deste asas a estes homens ingloriosos, senão até tu estarias ferrado. Agora, só me resta culpar-te com estas palavras, oh Deus santo... Culpo-te, infelizmente, culpo-te porque sou gente, culpo-te porque foste tu, somente tu, que inventaste essa história de dar a palavra ao homem... com ela, tu o fizeste gente... que fala, que caga... não late, mas mente!

jr

domingo, 30 de janeiro de 2011

Come si fa una tesi?

(Foto: J.Ribeiro)

Come si fa una tesi, perguntou o semioticista italiano Humberto Eco a si próprio quando estava escrevendo o belo livro com esse nome. Um livro que nos faz lembrar de manuais de autoajuda. Mas a semelhança da expressão está de um lado, as diferenças entre os gêneros são quilométricas.

Busquei esse título de Eco porque me vejo em uma encruzilhada. Já já direi as razões que me fizeram escolhê-lo.

Há exatos dois anos, num fim de janeiro, estava eu me perguntando: como se faz uma dissertação? Como viver em um lugar onde não se conhece ninguém? Como se faz pesquisa? E se eu não conseguir sobreviver? E se eu ficar doente, quem vai cuidar de mim? Será que vou dar conta de meus objetivos? Quais eram? Eu suportaria o ar seco e o clima bastante frio? Haveria algum choque cultural que magoasse minha subjetividade? Como encarariam meu eu, minha voz, minha fala, meu jeito de pensar, de agir, de lidar com os outros? E se o dinheiro acabasse? E se eu não tivesse chance de sobreviver? E se minha família precisasse de mim com urgência? E como eu suportaria a saudade de meu povo, minha família?...

Eram muitas as indagações. Por outro lado, todas elas precisavam de respostas, ainda que fossem efêmeras. Mas sempre achei que quando as dúvidas me vinham, de um modo ou de outro, eu precisava respondê-las. E isso já me vazia um certo investigador. Eu precisava de respostas... isso não me fazia desistir. Sempre preferi caminhar com uma resposta pouco satisfatória do que com a dúvida de não saber o que teria ocorrido se eu tivesse ido à busca de resposta.

Hoje dois anos depois da profusão de perguntas, eu já tenho algumas e também abri espaço para tantas outras. De lá pra cá, o tempo me deu oportunidade de aprender mais um pouco da vida e evitar que o medo seja maior que meu sonho. Meu objetivo na época, o que me trouxe aqui, foi desenvolver mais uma parte de um projeto de vida, um projeto que escolhi para me sentir bem. Então, para isso, tinha que escrever uma dissertação de mestrado. E com ajuda de professores e amigos – já que nunca estive só -, acho que estou concluindo uma nova etapa, essa parte do que chamei de projeto de vida. Mas antes de concluí-la, já estava traçando novos objetivos, pensando em novos caminhos a percorrer porque devemos nos movimentar o tempo todo. É assim que vejo a vida: um eterno balanço de bambolê que dança melhor conforme o corpo que lhe serve de balanço.

Portanto, minha encruzilhada não é o limo em que me pego no sofrimento; é o ponto em que me encontro comigo e com meus projetos neste lugar de passagem. É sempre o lugar onde eu preciso olhar para trás e avaliar meu projeto anterior, olhar pra frente e ver quais novos caminhos estão diante dos meus sonhos. É o lugar onde eu posso me sentar para formular novas perguntas, encarar as dúvidas, pensar sobre o que eu escolhi para o tempo seguinte... o tempo que me põe em movimento. Por ora, tenho um novo projeto: fazer meu doutorado. E, por isso, tenho clareza de uma dúvida que vai me acompanhar pelos próximos quatro anos: como se faz uma tese?

jr

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A descoberta de si

(Imagem: J. Ribeiro) xx

A descoberta de si

Por Jocenilson Ribeiro

Ao amigo Nagai

xxx

O homem,

a cozinha,

a escola,

a palavra.

xxx xxx

O homem da cozinha

O homem na escola

O homem que cozinha na escola

O homem na escola tentando, cozinhando

O homem tenta decifrar a palavra

O homem, a fome, o saber na palavra

O homem tenta unir o saber ao sabor da palavra.

xxx

O homem e o fê

O fê e o ê

O fê, o ê e o i

O homem e o fei

O homem e o ji

O homem une o ji ao ó

O homem tenta unir o fei e o jó

O homem, feijó

O homem pega o a e o dá

xxx

O homem,

um susto:

o mundo.

xxx

21 de novembro de 2010

jr

sábado, 20 de novembro de 2010

Eu, no mar de um pescador

(imagem: J.Ribeiro)

Eu, no mar de um pescador

Ao amigo Bolongin

Olho o espelho do mar: um pescador sem rede,

e a canoa à deriva cambaleando as ondas.

Tento me ver nos passos que marco na areia:

o tempo passa nas horas que piso, que vivo.

XXX

As nuvens ao alto anunciam a tempestade.

Que venha à força do mar - é bom pra peixe!

Chuviscos de chuvas choramingam sobre mim.

E eu - ali inerte – esperando esta vida aos pingos.

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Tento me ver no pescador, no anzol que há em mim,

mas a vida não passa, vazia, é simplesmente assim.

xxx

Pronto para me fazer de anzol um novo pescador

apenas me vejo andando, um mero sonhador, assim.

Eu sequer percebo que o mar é outro mundo,

Eu sequer percebo que o mar está em mim.

jr