sábado, 11 de junho de 2011

Amor sem I love you...

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Procuro um amor que não esteja ocupado, que não me cobre um tipo de amor qualquer, que não seja de um dia de namorados, nem que se reduza às flores que murcham, às maças que apodrecem e ao chantilly que dissolve. Procuro um amor que não seja comercial, que me aceite como sou, que não se transforme em carnaval. Procuro um amor que seja assim como eu sou, que não se mostre apenas pros outros, que não esteja estampado em molduras, que não me troque num fim de noite de domingo com o argumento de que o dia de se amar já passou. Procuro um amor que não tenha o dia certo pra acontecer, que não tenha a embalagem apropriada, o laço de fitas pra desatar; que não venha em caixinhas de alianças sem compromissos. Procuro um amor sem adereços, frases feitas como “I love you” em coração de pelúcia avermelhado. Procuro um amor feliz, pode ser brega enquanto se o viva, mas livre de qualquer formato já repetido. Quero um amor que não seja construído pelos outros, nem que eu me permita construí-lo sozinho, mas que seja livre de um dia eleito pelo mercado das paixões extravagantes. Procuro um amor assim: longe dos classificados... lamento se um dia eu nunca encontrar.
jr

terça-feira, 17 de maio de 2011

Oh Deus da palavra bélica!

Oh Deus! Por que fizeste de nossas línguas o instrumento da inglória? É culpa tua, Deus, que as confundiste... que permitiste que houvesse tantas línguas quando os homens subiram a maldita torre da discórdia... Agora dá nisso, Deus: a palavra é bélica, por tua causa! Oh homem onipresente, por que não deixaste as coisas como estavam caminhando, subindo, andando, caminhando? Sentiste pena dos homens e meteste as palavras em suas bocas? Por que não deixaste o homem chegar aos céus com seus grunhidos? Oh Deus, só pode ser culpa tua! Eu tenho certeza que aqueles nossos ancestrais, aqueles pais de nossos pais, de nossos pais, de nossos pais que se comunicavam com uma língua só [a bela língua, a língua pura, a mais culta, a divina e santa língua pura]... eu tenho certeza, Deus meu, que quando eles fossem subindo, subindo, subindo, subindo... e de lá do alto, quando menos percebessem, se espatifariam todos no chão em queda livre, e tudo estaria resolvido, porque eles voltariam ao pó esmigalhados. Sorte a tua, Deus, que não deste asas a estes homens ingloriosos, senão até tu estarias ferrado. Agora, só me resta culpar-te com estas palavras, oh Deus santo... Culpo-te, infelizmente, culpo-te porque sou gente, culpo-te porque foste tu, somente tu, que inventaste essa história de dar a palavra ao homem... com ela, tu o fizeste gente... que fala, que caga... não late, mas mente!

jr

domingo, 30 de janeiro de 2011

Come si fa una tesi?

(Foto: J.Ribeiro)

Come si fa una tesi, perguntou o semioticista italiano Humberto Eco a si próprio quando estava escrevendo o belo livro com esse nome. Um livro que nos faz lembrar de manuais de autoajuda. Mas a semelhança da expressão está de um lado, as diferenças entre os gêneros são quilométricas.

Busquei esse título de Eco porque me vejo em uma encruzilhada. Já já direi as razões que me fizeram escolhê-lo.

Há exatos dois anos, num fim de janeiro, estava eu me perguntando: como se faz uma dissertação? Como viver em um lugar onde não se conhece ninguém? Como se faz pesquisa? E se eu não conseguir sobreviver? E se eu ficar doente, quem vai cuidar de mim? Será que vou dar conta de meus objetivos? Quais eram? Eu suportaria o ar seco e o clima bastante frio? Haveria algum choque cultural que magoasse minha subjetividade? Como encarariam meu eu, minha voz, minha fala, meu jeito de pensar, de agir, de lidar com os outros? E se o dinheiro acabasse? E se eu não tivesse chance de sobreviver? E se minha família precisasse de mim com urgência? E como eu suportaria a saudade de meu povo, minha família?...

Eram muitas as indagações. Por outro lado, todas elas precisavam de respostas, ainda que fossem efêmeras. Mas sempre achei que quando as dúvidas me vinham, de um modo ou de outro, eu precisava respondê-las. E isso já me vazia um certo investigador. Eu precisava de respostas... isso não me fazia desistir. Sempre preferi caminhar com uma resposta pouco satisfatória do que com a dúvida de não saber o que teria ocorrido se eu tivesse ido à busca de resposta.

Hoje dois anos depois da profusão de perguntas, eu já tenho algumas e também abri espaço para tantas outras. De lá pra cá, o tempo me deu oportunidade de aprender mais um pouco da vida e evitar que o medo seja maior que meu sonho. Meu objetivo na época, o que me trouxe aqui, foi desenvolver mais uma parte de um projeto de vida, um projeto que escolhi para me sentir bem. Então, para isso, tinha que escrever uma dissertação de mestrado. E com ajuda de professores e amigos – já que nunca estive só -, acho que estou concluindo uma nova etapa, essa parte do que chamei de projeto de vida. Mas antes de concluí-la, já estava traçando novos objetivos, pensando em novos caminhos a percorrer porque devemos nos movimentar o tempo todo. É assim que vejo a vida: um eterno balanço de bambolê que dança melhor conforme o corpo que lhe serve de balanço.

Portanto, minha encruzilhada não é o limo em que me pego no sofrimento; é o ponto em que me encontro comigo e com meus projetos neste lugar de passagem. É sempre o lugar onde eu preciso olhar para trás e avaliar meu projeto anterior, olhar pra frente e ver quais novos caminhos estão diante dos meus sonhos. É o lugar onde eu posso me sentar para formular novas perguntas, encarar as dúvidas, pensar sobre o que eu escolhi para o tempo seguinte... o tempo que me põe em movimento. Por ora, tenho um novo projeto: fazer meu doutorado. E, por isso, tenho clareza de uma dúvida que vai me acompanhar pelos próximos quatro anos: como se faz uma tese?

jr