quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Comunicação digital: a droga da vez?

Amigos, Para não perder a tradição no Palatus no qual se publicava em cada mês uma contribuição, segue uma crônica de um amigo, que nos faz refeltir sobre o uso dos meios digitais e as novas formas de relações humanas. Não se assustem com o tamanho, vale a pena ler.

Por Cristiano Uzêda Teixeira*

Como se comportaria a sociedade hoje sem alguns meios de comunicação como MSN, Orkut, Mp3, celulares? Fiz-me este questionamento depois de deparar-me falando sozinho e perceber que as pessoas às quais eu direcionava minha fala tinham suas atenções voltadas para uma tela de computador. Isso me fez notar que os meios de comunicação têm nos tornado cada vez mais indiferentes uns com os outros.

Lembro-me de uma república universitária movimentada, onde as discussões mais interessantes surgiam das ações mais simples. A interação era total. O tempo foi passando... um Mp3 ali, um Mp4 aqui, notebooks, internet. Esta última, sem dúvida, manipulou a atenção de todos. Já me parei a olhar todos calados, falando introspectivamente, rindo sei lá do quê... Mas, o pior de tudo é falar e ninguém perceber ou se quer olhar pra você. Isso sim é, no mínimo, desagradável - saber que fisicamente você está ali, bem perto de pessoas que convivem com você, mas, ao mesmo tempo, está sozinho, praticamente incomunicável. Saber, por exemplo, que é mais frustrante ficar sem internet a não conversar com quem se convive é, realmente, desolador. Ah, mas um dos poucos meios de roubar a atenção da tela do computador é através do toque do celular.

Por falar em celular, lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que saí de casa para cursar faculdade; naquela época ganhei o primeiro celular. A idéia em adquirir tal aparelho foi diminuir o impacto causado pela distância com a saída de casa. Naquela época (há cinco anos) foi necessário, afinal estava no final da adolescência e iria morar sozinho em outra cidade. No entanto, me questiono hoje, se comprar um celular tem a mesma função que tinha há cinco anos, pois, apesar de facilitar e agilizar a comunicação, este também pode distanciar as pessoas fisicamente.

A idéia de falar sem olhar nos olhos e de não “ler” as expressões faciais ao se comunicar com alguém nunca me agradaram. Nunca se sabe, verdadeiramente, o que ocorre do outro “lado”. Quando se fala ao celular, somente a fala é captada e interpretada. Gestos, olhares e outros comportamentos não são captados e acabamos por nos acostumar com isso. Não andamos cem metros se tivermos como usar o celular. Ganhamos a praticidade de falar imediatamente à distância e, ao mesmo tempo, perdemos o contato físico e a interação presencial entre as pessoas.

Nos dois casos (o da internet e o do celular), a distância é a desculpa para não se aproximar do outro, digo, se aproximar fisicamente. No primeiro, não há necessidade de conversar, pois o outro está ali e pode-se conversar a qualquer momento, mais interessante mesmo é falar com quem está longe, com pessoas diferentes. No segundo, o problema é o percurso a ser feito, a tendência é ligar mesmo que não seja necessário, talvez para não gastar energia indo até a pessoa ou mesmo por preguiça. O resultado disso tudo é que deixamos de conhecer mais o outro e nos tornamos mais introspectivos e indiferentes.

Diante disso, percebo que devo voltar mais minha atenção ao mundo real e desligar-me mais dos msn’s, orkut’s (que por sinal nem sou tão ligado assim) e dos trabalhos em excesso que me prendem a este meio virtual, à medida que entendo estes mecanismos como manipuladores do meu modo de vida, como uma droga que precisa ser dosada para não causar dependência.


* Graduado em Geografia pela UEFS e especialista em Ciências Ambientais pela mesma instituição. E-mail: uzedavca@gmail.com.

Fonte da Imagem: http://ecomunicacao.wordpress.com/2007/11/19/o-impacto-da-revolucao-digital-nos-modos-da-comunicacao-empresarial-2/ Acesso: 13/11/2008.

4 comentários:

Georgio Rios disse...

Caro NIlson. que bom que o blog está aberto acolaborações tão proveitosas.

Um abraço de Georgio \Rios

Helena Chiarello disse...

Muito interessante mesmo, essa abordagem do Crittiano. Esse é o perigo das facilidades tecnológicas. Acabamos nos acostumando a elas até chegar muito próximo da dependência, e deixamos de lados as coisas verdadeiramente importantes: a proximidade, a presença, o contado. Muito bom!

Palatus disse...

Pois é, Georgio...sinta-se pressionado a me enviar uma contribuição pro mês que vem.
Que tal um poema de Natal?
Abraço, amigo.

Palatus disse...

Oi, Hele, pois é... com uma ironia velada que já conheço, Cristiano soube expressar de fato uma realidade vivida por muito de nós.
Obrigado pela visita!