segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Vive Bruxo do Cosme Velho!

Cem anos de morte de uma pessoa são muito mais que uma vida, ainda mais para alguém que não morre por completo nesta vida. José Maria Machado de Assis (21 de junho de 1839 a 29 de setembro de 1908) completa hoje cem anos que mudou de estado. Não o estado do Rio de Janeiro, onde passou seus inteiros 69 anos, mas da matéria em carne para o estado de alma.
Pensar que ele morreu? Impossível do ponto de vista literário. Machado está mais vivo que muitos imortais da Academia que ele fundou. Junto com o mulato epilético, ainda se vê passeando por aí a dissimulada Capitu, com seu olhares oblíquos à procura de Bentinho (ou Escobar?). Eis o mistério da Rua de Matacavalos.
A depender de sua imaginação, amigo leitor, é possível encontrar, nas esquinas de leituras, um bate-papo - sobre a teoria do medalhão e a eficácia do emplasto - entre Dom Casmurro, o ranzinza Quincas Borba, Escobar, Brás Cubas em espírito quase santo, Virgília, Lobo Neves, Marcela, o conselheiro Aires, D. Carmo, Eugênia, Helena, Salvador e o garotinho Escobar montado nas costas de Prudêncio, o escravito.
É possível ainda encontrar Viana, Cecília, dona Evarista, o padre Lopes, os doutores Félix, Camargo e Simão Bacamarte (esqueci os outros); Sebastião, Crispim Soares, o adolescente Nogueira, Menezes, Vilela, Camilo, Rita, a cartomante, o cônego Vargas; dona Severina, Borges, Inácio, Carolina, entre outros convidados, na casa de Conceição antes da missa do galo. Em nossas cabeças, amada leitora, há espaço pra tudo nesta vida, inclusive para reconstruirmos a figura do mulato Machado e adaptarmos até ao mundo da internet e da vida pós-moderna.
Uma pausa, leitor, para uma ironia machadiana acerca das eleições: este ano, se Machado se candidatasse a prefeito, poderia falar, na TV digital, tela plana, em noite de debate:
Jornalista: ......................? Machado: ....................... Jornalista: .......................? Adversários: ..........................!!! Machado: ..............................! Jornalista: .......................

Já não há quem viveu o tempo de vida do Bruxo do Cosme Velho, muito menos sobrevive seu tempo de morte; contudo, ele se manteve entre nossas gerações até agora e continuará presente graças a sua engenhosidade na arte de escrever boas histórias e fazer pensar nossa própria condição. Seus personagens somos nós que, muitas vezes, agimos como eles, mas não temos a coragem de olhar nO Espelho, afim de, encarando-nos, entendermos os nós da alma humana.

jr

7 comentários:

Anônimo disse...

Gostei, Nilson, e acho que você tem razao; Machado continua vivo!
Por outro lado, prefiro chama-lo de MAGO. Um abraço,
Leni

Anônimo disse...

Bem ao estilo machadiano de escrever, como não poderia deixar de ser...
Homenagem permeada pelas alusões, insinuações e ironias características do nosso autor.
Muito bom! Nos leva a pensar no quanto Machado pode influenciar em nossa tentativa de desvendar os misterios sobre "ser" humano...

Obrigada por tuas palavras.
Pura epifania.
Bjinho

Tânia Lima

Palatus disse...

Cara Leni, Mago é um bom pedido...mas não prefiro esse nome porque me vê à mente um tal de...autor de Diário de um Mago...nada comparável.
Rsrsrs
Passe bem!

Palatus disse...

Amiga, tania...epifânicas são suas palavras...e sábias, sobretudo.
Obrigado pela visita. Volte sempre.

Anônimo disse...

Amigo...sabe que sou sua fã...texto muito bom...leitura imensamente prazerosa. Aquela pausa cheia de insinuações sobre Machado "político" foi ótima! Acredito que realmente ele não morreu...principalmente quando pensamos em seus enigmas...em seus olhos de ressaca...e nos espelhos que convivem e vivem com nosco em nosso dia a dia. Muito beijos

Palatus disse...

Eu é que sou teu fã, Lu...Machado nos faz sentir assim. Abraço.

Lidi disse...

Excelente texto, Nilson! Se tivesse participado da seleção da Academia Brasileira de Letras teria grande chance de ser escolhido! Parabéns! Sou fã de Machado e tua também! Abraço!