domingo, 11 de outubro de 2009

A uma dama, abre-se até a porta de um fusca

E quem disse que abrir porta de carro para uma dama é cafonice?

Andava eu meio desatento numa destas ruas tímidas da cidade luminosa de São Carlos. Ainda era cedo se levarmos em conta que às 19h não é hora para se encher os bares no sábado à noite! Mão única numa rua não muito plana. O vento frio levava minhas mãos gélidas aos bolsos do casaco e contrastava com o ar quente que saia de minha boca ‘esfumaçante’.

Brinquei um pouco com isso como um menino que descobre o lado bom do frio pela primeira fez. Em poucos segundos, transpus-me dali a outros lugares, às margens do Sena talvez, na velha Paris, tendo a meu lado uma dessas personagens cinematográficas de filmes de romance fajuto. (Às vezes, quando caminho sozinho à noite, por lugares que não me manifestam algum medo da violência urbana, apresenta minhas divagações).

Um pouco mais adiante, um fusca preto (modelo novo) passou por mim naquela rua calada e parou a dois quarteirões do semáforo, que permitia minha passagem. Vi então um rapaz sair do carro e dirigir-se a outra porta abrindo-a para a saída de uma moça, que segurava sua mão. Inicialmente, imaginei que se tratasse de uma mulher chegando do hospital talvez e devesse ser acompanhada com bastante cuidado. Todavia, notei que se tratava de uma bela moça em traje de cerimônia acompanhada de seu deferente parceiro.

Segui o rumo imaginando o destaque daquela linguagem quase anacrônica se não fosse a importância de sua funcionalidade nas relações afetivas. Obviamente, mandar cartas perfumadas ao outro, puxar a cadeira, abrir ou fechar a porta do carro para a parceira hoje serve apenas como histórias de nossas avós, motivos de piadas e risos e saudosismo de um tempo que não vivemos, mas que permanece no imaginário coletivo, na memória de leituras e de conversas antigas. Deve ter sido por isso que seria mais coerente para mim imaginar que o fato que me chamou a atenção só poderia tratar-se de um caso de saúde, não de um romantismo à moda antiga como apresentou aquele casal balzaquiano.

Num momento em que as notícias sobre violência contra a mulher são mais comuns, se eu dissesse que teria visto um homem atropelando dolosamente uma moça, talvez convencesse mais o leitor; no entanto, acredite, a cena romântica naquela rua pacata foi verdadeiramente um clássico da vida real.

jr

7 comentários:

Lidi disse...

É mesmo difícil encontrar um cavalheiro assim nos dias de hoje. Exceto, claro, meu amigo Nilson! Abraço e saudades...

Cristiano Contreiras disse...

Sou a favor do romantismo e convencionalismo educacional, ou seja, ser o tipico cavalheiro de outrora...rs

abraço, ate

Unknown disse...

Volte ao blog sempre que quiser.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Hahaha

Tragicômico esse último parágrafo. Uma crônica que está mais para conto...

Walter Filho disse...

É raro mas existe sim viu Nilson, e sou totalmente a favor desse tipo d comportamento, as mulheres q têm, gostam muito, e as q não têm, são loucas pra ter, mesmo q não admitam.Valeu pela visita!;)

marcelo grejio cajui disse...

Mas agora ta na moda o resgate de valores. tem a cena de um filme que nunca vai sair da minha cabeça. Acontece no "Era uma vez na América". Robert de Niro empresta o carro pro pupilo levar a namorada no cinema. Fala pra ele abrir a porta e esperar que ela levante o pino (trava) da porta enquanto ele dá a volta pra entrar. Se ela não levantar, nunca vai servir como esposa.

Acho que a educação cabe dos dois lados. muitas vezes são elas que não representam. hahahah.

Gisele Freire disse...

Olá!
Engraçado é que vejo essa cena com mais frequência que vc possa imaginar :)
Ainda bem que existem pessoas românticas :)
abraço
Gi