terça-feira, 12 de junho de 2007

Conto: Separação

O pai, a mãe, o filho... a separação. Chega a hora.
— Pai, pai. Fala comigo, pai.
O pai chora. A dor, o soluço entalado na garganta. O silencio é o alvo. A angústia se revela no vermelho que jorra entre os três. A cena segue lenta e sombria em frente ao cais.
— Pai, meu pai? Responde, pai.
O silêncio persiste após o chamado. Tudo cala, só a dor é que persiste.
O pai tenta conter as lágrimas que ameaçam gotejar em meio à agonia. Não consegue, e sussurra:
— Vá...vai, meu filho. Eu volto. Cuide de sua mãe, tá?
— Não, você não pode me deixar. Não me deixe, pai. Nós só temos você. Você é tudo pra nós.
Abraço, dor, lágrimas...grito, ódio, amor, dor, dor. O pai, enfim, é levado. O filho chora. O filho tenta escapar. Alguém o puxa, alguém o segura, alguém o leva. O pai vai ao longe, olhando pra frente, olhando trás, olhando, olhando...
O menino grita:
— Eu quero ir, ele é meu pai, me deixem ir — Ninguém o escuta.
O enfermeiro, o médico, o militar. Todos de branco, no branco do azul cinzento do céu e mar.
O filho chama, implora, quase desfalece. Mas o pai não ouve. Apenas levanta a mão lentamente no infinito.
A mãe abraça o filho. Tenta conter as últimas gotas, mas chora ao assistir ao conflito entre o amor e o ódio vivido pela criança. Ambos voltam pra casa.
À noite, a mãe cheira as rosas que encontra em cima da cama, e chora. Tenta disfarçar a tristeza. O menino quebra o pequeno navio que o pai lhe deu no aniversário de cinco anos. A mãe reclama, mas entende.
Ambos ajoelham-se e rezam e agradecem e benzem-se e beijam a fotografia do pai... Os dois se deitam, não conseguem dormir. O menino abraça a foto e pergunta:
— Mãe, quando é que a guerra acaba?
A mãe finge dormir... O menino não insiste e se entrega ao sono, cansado dos óbices da vida.
jr

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